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O FUNGO - INÍCIO

Fungo/fungi (palavra de origem no latim), micete/mycetes (palavra de origem grega), cogumelo (do latim - em forma de tina ou tacho) e champignon (palavra francesa que vem do latim - que tem origem no campo) são palavras que tem servido como sinónimos na literatura médica internacional.

Os fungos  encontram-se espalhados pela natureza onde desempenham um papel essencial na reciclagem da matéria orgânica. Os fungos desintegram quase todos os restos orgânicos permitindo o completar do ciclo da matéria e da energia levando à produção do humus do solo imprescindível à sua capacidade fertilizadora e nutricional.  
Daqui resulta serem considerados saprófitas, aqueles que adquirem os nutrientes necessários à sua sobrevida a partir de matéria orgânica em decomposição. 

Os fungos são organismos eucariotas, ou seja, possuem núcleos individualizados, com uma membrana nuclear, cromossomas e um nucléolo, e no citoplasma apresentam um aparelho mitocondrial.

Eles têm uma parede grossa peptido-poliosídica, de composição variável de acordo com os grupos: manano, glucano, quitina, quitosana, proteínas, fosfolípidos e uma membrana celular rica em esteróis (o principal é o ergosterol).
A parede é rígida o que impede a fagocitose permitindo apenas a absorção de substâncias simples e soluveis previamente elaboradas pelas enzimas secretadas.

A existência simultânea de uma parede celular periférica e vacúolos turgentes no citoplasma aproxima-os das plantas às quais eles estiveram unidos. Mas a ausência de cloroplastos (e, portanto, de clorofila) fá-los classificar num grupo separado.
A sua substância de reserva é o glicogénio, o mesmo acontece com os animais, enquanto que para as plantas é o amido.

São organismos heterotróficos para os quais a fonte de carbono é dependente da presença de matéria orgânica pré-formada, que condiciona, dependendo das circunstâncias, sua vida saprófita, parasitária ou simbiótica.
Quase todos os fungos são saprófitas no solo, em matéria orgânica morta, por vezes constituem-se como parasitas de algumas plantas com consequências devastadoras na história do homem (responsáveis por guerras e determinantes na escolha do vencedor) e na economia de muitos povos.
Algumas centenas de espécies diferentes de fungos podem, como oportunistas, ser agentes patogénicos para o homem e para os animais.

A estrutura orgânica dos fungos nunca dá origem à formação de tecidos celulares como o fazem animais e plantas. A unidade estrutural básica do fungo “thalo”  tem um aspecto muito variável, pode ser unicelular (leveduras) ou ter  forma filamentosa (hifas) muito complexa. Dá-se o nome de micélio ao conjunto das hifas e estruturas filamentosas especiais.

As leveduras multiplicam-se por gemulação, só raríssimas espécies o fazem por divisão binária.


Classificação dos fungos
A sistemática moderna :

Com o advento da biologia molecular, a classificação dos organismos vivos foi revista e modificada.
Agora estamos usando cada vez mais uma classificação filogenética que agrupa seres vivos com base em homologias do seu DNA (genótipo); enquanto a classificação tradicional estabelece grupos ou taxa de acordo com um critério simples de semelhança global (fenótipo).
O uso de ferramentas filogenéticas levou a mudanças profundas na classificação de fungos.

Classificação histórica
O reino fungi, história :

HAECKEL 1894
3 reinos
WHITTAKER 1969
5 reinos
WOESE
1977
6 reinos
WOESE
1990
3 dominios

CAVALIER-SMITH
2004
2 impérios e 6 reinos
Animal
Animal
Animal
Eucariota
Eucariota
Animal


Fungo

Vegetal
Fungo
Fungo
Vegetal
Vegetal
Vegetal
Cromista

Protista

Protista
Protozoário

Protozoário

Procariota
Arqueobacteria
Procariota
Bacteria
Monera
Arquebacteria
Eubacteria
Eubacteria


WHITTAKER 1969
5 reinos




Animal / animalia
multicelular
heterotrófico


Fungo / fungi
multicelular
saprófitico


Vegetal / Plantae
multicelular
autotrófico







Protista
unicelular
protozoários
algas unicelulares

Monera
unicelular
bactérias e algas azuis



Os fungos quase sempre intrigaram os homens, mas foi só em 1795 que um botânico chamado Jean-Jacques Paulet definiu a ciência dos cogumelos/fungos como a micologia.
Nesta altura, os cogumelos eram considerados plantas sem clorofila.
Haeckel (em 1894) divide o mundo vivo em três reinos: Animal, Vegetal e Protozoários. Os fungos ainda são classificados como plantas devido à presença de uma parede celular e muitas semelhanças entre seus ciclos reprodutivos e os das algas.
Foi em 1969 que Whittaker propôs uma divisão em cinco reinos: Animal, Fungo, Vegetal, Protista e Monera (os Procariotes).
Posteriormente, Woese (1977) subdividiu o reinado dos Moneres em Archeobacteria e Eubacteria.
É o mesmo Woese que, em 1990, lançará as bases do sistema atual dividindo a vida em três áreas: eucariotas, arqueobactérias e eubactérias (os dois últimos sendo agrupados sob o termo Procariotas)
Desde então, estes agrupamentos continuam a ser discutidos, pelo que, em 2004, Cavalier-Smith propôs um agrupamento em dois impérios (eucariotas e procariotas) e seis reinos: Animal, Fungo, Vegetal, Cromistas, Protozoários e Bactérias


Com o advento da biologia molecular, a classificação dos organismos vivos foi revista e modificada. Agora estamos usando cada vez mais uma classificação filogenética (definida com base em homologias de DNA).
Do ponto de vista filogenético, os fungos são classificados como opistochontes (organismos de flagelos posteriores) grupo que compartilham com os animais.
No que diz respeito aos fungos, é importante saber que vários grupos de organismos fungiformes, anteriormente relacionados aos fungos, agora são classificados separadamente entre vários grupos protistas. Eles são, apesar de tudo, por vezes, estudados pelos micologistas e, portanto, acabam por pertencer à micologia no sentido amplo.

Antiga classificação dos fungos :

Uma das classificações mais difundidas é a de Ainsworth e Bisby em seu "Dicionário de Fungos" (1971), embora hoje esteja profundamente reformulada (9ª edição em 2001), ainda encontramos versões antigas desta classificação em alguns trabalhos.


Classificação de Ainsworth et Bisby :

Reino dos Fungi :

Divisão dos Mixomicota (apresentam plasmodios)
Acrasiomicetes
Mixomicetes
Plasmodiophoromicetes

Divisão dos Eumycota (sem plasmodios)
Subdivisão des Mastigomycotina (com esporos móveis : zoospores)
Chitridiomycetes
Hiphochitridiomicetes
Oomycetes
Subdivisão dos Deuteromycotina
Subdivisão dos Zigomicotina
Subdivisão dos Ascomicotina
Subdivisão dos Basidiomicotina

Os fungos de interesse médico pertencem às subdivisões ascomycota, basidiomycota e zygomycota consoante produzem ascosporos, basidiosporos ou zigosporos.


A reprodução dos fungos é feita através dos esporos quer de maneira assexuada quer de maneira sexuada. Este comportamento reprodutivo tem influencia na classificação dos fungos levando a que muitos fungos tenham dois nomes distintos, um para a forma assexual (anamorfa) e outro para a forma sexuada (teleomorfa). A reprodução sexuada é muito difícil de conseguir em laboratório.

Classificação dos fungos importantes em medicina:
(atenção têm sido propostas inúmeras classificações, sobretudo para os telomorfos, e actualmente estão sendo substituídas pela classificação filogenética de acordo com os avanços da biologia molecular)

REINO: FUNGOS
TELEOMORFOS
            divisão: zygomycota



                         classe: zygomycetes


                                     ordem: mucorales
Mucor, Rhizopus,Absidia, Cunninghamella, Rhizomucor
                                     ordem: entomophthorales
Basidiobolus, Conidiobolus
            divisão: ascomycota



                         classe: saccharomycetes
Clavispora, Pichia, Saccharomyces
                         classe: eurotiomycetes


                                     ordem: eurotiales
Emericella, Eurotium
                                     ordem: onigenales
Ajellomyces, Arthroderma
                         classe: sordariomycetes


                                     ordem: sordariales
Chaetomium, Neurospora
                                     ordem: microascales
Pseudallescheria
             divisão: basiodiomycota



                         classe: urediniomycetes


                                     ordem: sporodiobolales
Sporodiobolus, Rhodosporidium
                         classe: hymenomycetes


                                     ordem: tremellales
Filobasidiella
                                     ordem: agaricales
Schyzophyllum
ANAMORFOS
Leveduras (blastomicetes)
Cândida, Cryptococcus, Malassezia, Rhodotorula,Trichosporon, Sporobolomyces
hyphomycetes



                  moniliaceous
Hifa ou conidia com melanina visível: Aspergillus, Fusarium, Histoplasma, Paecilomyces, Penicillium, Scopolariopsis, Acremonium, Trichoderma, Microsporum, Trichophyton, Epidermophyton, Geomyces, Geotrichum, Onychocola, Sporotrix, Histoplasma, Coccidioides, Paracoccidioides,Scytalidium, Sepedonium, Verticilium…
                  dematiaceous
Hifa ou conidia com melanina visível: Alternaria, Aureobasidium, Bipolaris, Cladophialophora, Cladosporium, Curvularia, Drechselera, Epicoccum, Exserohilum, Exophiala, Fonsecaea, Phialophora, Scedosporium …
coelomycetes
Conidia produzida em picnidia ou acervuli: Phoma e Natrassia.

Uma outra proposta que serve para demonstrar que a discussão sobre o tema está longe de ser consensual:

De acordo com DESCRIPTIONS OF MEDICAL FUNGI THIRD EDITION (revised November 2016) SARAH KIDD, CATRIONA HALLIDAY,HELEN ALEXIOU and DAVID ELLIS (www.mycology.adelaide.edu.au) é proposta esta classificação:


FUNGOS
REINO
PHYLA
exemplos
PROTOZOA
myxomycota
Slime moulds
CHROMISTA
oomycota
Pythium
EUMYCOTA
Ascomycota



Cândida, Aspergillus, Scedosporium, (…), fungos dimórficos e dermatófitos
Basidiomycota

Cryptococcus, Trichosporum e Malassezia.
Chytridiomycota

Chytrids
Glomerulomycota
Endomycorrhizal
Microsporidia

170 géneros, 1300 espécies
Zygomycota
Rhizopus, Mucor, Rhizomucor, Lichtheimia, …

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