Quinze anos se passaram desde que foi isolada no laboratório a última Cunninghamella bertholletiae.
Este isolado ocorreu numa amostra de secreções bronco-pulmonares de um doente de 76 anos com: bronquiectasias. expetoração hemoptoica, cansaço e perda de peso; a imagiologia revelou bronquiectasias, formações cavitadas e áreas de fibrose e retração do parenquima. Pesquisa de micobaterias foi negativa.
Diagnóstico Precoce:
É crucial para melhorar o prognóstico. A suspeita clínica deve ser rapidamente
confirmada por exames microbiológicos (cultura, PCR) e histopatológicos
Fisiopatologia:
Cunninghamella bertholletiae é um
fungo zigomiceto, saprófito comum em solo e matéria orgânica em decomposição.
Modo de Transmissão: A infecção ocorre principalmente por inalação
de esporos, podendo também ser adquirida através de feridas na pele.
Patogénese: Após a entrada no organismo, o fungo pode causar uma
resposta inflamatória intensa, especialmente em indivíduos imunocomprometidos.
A doença pode se manifestar de forma pulmonar, cutânea ou disseminada,
dependendo da porta de entrada e do estado imunológico do hospedeiro.
Fatores de Virulência: A capacidade do fungo de sobreviver e se
multiplicar dentro de células fagocíticas, como macrófagos, é um fator crucial
para a sua patogenicidade. Além disso, a produção de enzimas e toxinas pode
contribuir para a destruição tecidual.
Apresentação Clínica:
Infeção Pulmonar: Sintomas iniciais: Febre, tosse, dor torácica, dispneia. Possível evolução para pneumonia, com infiltrados pulmonares visíveis em exames de imagem.
Infeção Cutânea: Lesões cutâneas primárias após trauma com contaminação do fungo. Possível disseminação hematogénica para outros órgãos a partir da lesão cutânea.
Infeção Disseminada: Acometimento de múltiplos órgãos, incluindo sistema nervoso central, rins, fígado, e coração. Frequente em pacientes imunocomprometidos, com quadro clínico grave e rápido progressão.
Prognóstico:
Geralmente Desfavorável:
Especialmente em casos de infecção disseminada ou em pacientes com comprometimento
imunológico severo.
Taxa de Mortalidade: Alta,
variando de 50% a 90% em diferentes estudos, dependendo da população estudada e
do atraso no diagnóstico e tratamento.
Fatores que Influenciam o Prognóstico:
- Estado imunológico do paciente.
- Extensão da doença (localizada vs. disseminada).
- Tempo até o início do tratamento adequado
Terapêutica:
- AmB Liposomal
- Posaconazol ou Isavuconazol: Podem ser considerados em casos de intolerância à AmB ou como tratamento de manutenção após a estabilização com AmB.
- Suporte Clínico
- Reabilitação Imunológica
Observação macroscópica da colónia:
As colónias têm um crescimento muito rápido, preenchem toda a placa de petri, inicialmente brancas, mas tornam-se cinzentas escuras e pulverulentas com o desenvolvimento dos esporângios. Esporangióforos com até 20 μm de largura, rectos, com ramos verticilados ou solitários. Vesículas subglobosas a piriformes, as terminais com até 40 µm e as laterais com 10-30 µm de diâmetro. Os esporângios são globosos (7-11 µm de diâmetro), ou elipsoidais (9-13 x 6-10 μm), verrucosos ou curto-echinulados, hialinos isoladamente mas acastanhados em massa.
A observação microscópica do
micélio revela:
As hifas largas não septadas ou com raros septos. Os esporangióforos são erectos e formam ramos laterais
curtos, cada um dos quais termina numa vesícula inchada. A vesícula tem projeções
na sua superfície. Os esporangiolos são redondos a ovais, com um só esporo, e
formam-se nestas projeções. Os esporangiósporos são unicelulares, solitários e
de forma globosa a ovoide. As paredes dos esporos têm frequentemente cristais
em forma de agulha.
Colónia com 6 dias de incubação. |
Reverso da colónia |
Hifas largas não septadas ou com raros septos |
Esporangióforos ramificados |
Esporangiósporos soltos |
Vesiculas com esporangiolos maduros |