blog sobre micologia médica

Patologia Clínica CHUC Coimbra Portugal

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CANDIDIASE VULVO VAGINAL




A candidíase vulvovaginal (CVV) é normalmente causada por Candida albicans, mas pode, ocasionalmente, ser causada por outras espécies de Candida ou leveduras. Os sintomas típicos da CVV incluem prurido, dor vaginal, dispareunia, disúria externa e corrimento vaginal anormal. Nenhum destes sintomas é específico da CVV. Estima-se que 75% das mulheres terão pelo menos um episódio de CVV e 40%-45% terão dois ou mais episódios.

A grande maioria das espécies do género Candida spp. é comensal no ser humano; no entanto, algumas são agentes patogénicos oportunistas que podem causar infecção, chamada candidose. Entre os diferentes tipos de candidiase, destacamos a vulvovaginal (VVC), que pode ocorrer em duas variantes clínicas principais: crónica (cVVC) e episódica ou esporádica. A incidência de cVVC tem vindo a preocupar a comunidade médica

Simbiose em biologia refere-se a uma relação ecológica em que um organismo (o simbionte) vive numa relação de longo prazo (simbiose) num ecossistema natural com outro organismo (o hospedeiro), sem mais implicações no resultado final da sua relação. Isto pode ser benéfico apenas para o simbionte (comensalismo) ou também para o hospedeiro (mutualismo), mas noutros casos, é prejudicial para o último (parasitismo).

A colonização significa a permanência estável de um microrganismo sobre um epitélio, embora por vezes possa ser transitória, exclui-se aqui fenómenos de contaminação. A colonização é necessária para a simbiose comensal ou mutualista, mas também representa a primeira fase da doença (parasitismo). Sob esta perspetiva, as duas primeiras fases são consideradas como portadores assintomáticos, enquanto que a última é melhor reconhecida como a fase prodrómica da infeção

A  colonização não necessita de intervenção terapêutica quando assintomática, mas isto aplica-se claramente quando se pode excluir a existência de patologia recorrente com doenças não recorrentes. Por exemplo, a terapia profilática intermitente de longa duração é recomendada para mulheres com candidose vulvovaginal crónica, tornando assim desejável a supressão do porte assintomático.

Candida é consensualmente aceite como sendo comensal, nos pontos da sua entrada frequente no corpo (vias respiratórias e digestivas) e contacto (pele), embora em circunstâncias particulares possa mudar para um papel patogénico (parasita). Este não é o caso da vagina, onde ecologicamente o acesso é limitado às relações sexuais. Portanto, não há razão para ver a Candida simplesmente como um verdadeiro comensal vaginal. Em vez disso, a sua presença na vagina, supostamente temporária embora por diferentes períodos de tempo, pode ser clinicamente considerada como um estado de colonização reversível (mulheres normais) ou um prodrómico do parasitismo não obrigatório de Candida spp (em mulheres suscetíveis), induzindo danos (sintomas e/ou sinais) mais cedo ou mais tarde. Tratar ou não tratar é então o resultado de defini-lo como uma portadora assintomática ou colonização prodrómica.

Classificação de VVC (candidiase vulvovaginal) e suas fases precedentes:

Portadora assintomática: Colonização de Candida em mulheres sem problemas ou historial de doença significativa.

Candidose esporádica ou episódica: Infrequente, significando não mais de dois episódios num período de um ano (12 meses de calendário).

Portadora prodrómica: A colonização por Candida em mulheres sem problemas no presente, mas com antecedentes de episódios frequentes e sendo esperado que mais cedo ou mais tarde se torne sintomática.

Candidose Crónica, Recalcitrante ou Refratária: De longa duração, sendo duradouras e caracterizadas por um longo sofrimento, podem assumir dois perfis clínicos diferentes:

Candidose persistente ou resistente, sendo contínua, nunca cessando, sem remissões, embora com flutuações de intensidade.

Candidose recorrente ou recaída aquelas que reaparecem após uma remissão objetiva confirmada (clínica e cultural), e que podem ser subclassificadas como reinfeção, quando causadas pelo mesmo agente que o episódio anterior e como nova infeção se por uma estirpe diferente. (geralmente definida como três ou mais episódios de CVV sintomática em <1 ano, afecta <5% das mulheres)

Aproximadamente 10%-20% das mulheres terão CVV complicada, exigindo medidas diagnósticas e terapêuticas específicas. Como  CVV podem incluir-se: apresentação recorrente, apresentação severa, causadas por outras candidas que não a albicans, ou acompanhando diabetes, imunossupressão, imunocomprometimento e terapêutica imunossupressiva.  

Para definir um caso específico, são necessárias ferramentas adequadas. Sabendo que o diagnóstico da síndrome é insuficiente, e mesmo a microscopia falha muitos casos, e que, em contraste, técnicas de biologia molecular podem levar a um sobre diagnóstico, o método padrão a escolher é a cultura microbiológica.

O exame microscópico direto de uma amostra vaginal preparada com KOH, se execuível, deve ser realizado em todas as mulheres com sintomas ou sinais de CVV, e as mulheres com um resultado positivo devem ser tratadas.

No caso do teste direto ser negativo, inconclusivo ou impossível de realizar mas haja sinais ou sintomas, deve ser considerada a realização de culturas vaginais no âmbito da micologia.

Em casos CVV complicada a cultura de secreções vaginais ou testes de biologia molecular (PCR) devem ser obtidas para confirmar o diagnóstico clínico e identificar a Candida não albicans.

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