A espécie aqui evidenciada foi isolada num placa com meio de Sabouraud colocada num quarto de uma habitação no âmbito de um protocolo formalizado entre o laboratório de micologia e serviço de pneumologia (consulta de Pneumologia/Patologia do Interstício).
Em seguida transcreve-se o texto elaborado pelos responsáveis do serviço de pneumologia ao qual o laboratório aderiu na medida das disponibilidades técnicas:
"Execução de estudos aerobiológicos domiciliários a fungos
No âmbito da nossa atividade
clínica na consulta de Pneumologia/Patologia do Interstício, identificamos
ocasionalmente doentes com suspeita clínica de Pneumonite de Hipersensibilidade
a fungos, quer por relato de exposição valorizável a manchas/contaminação por
bolores dentro da habitação, quer pelo contacto com matérias-primas
contaminadas por bolor (p. ex. madeira/lenha) ou quando objetivamos elevação
sérica de IgGs específicas a fungos filamentosos.
Estes doentes desenvolvem uma
sensibilização imune (por reação de hipersensibilidade tipo 3 e 4 de Gell e
Coombs) a estes antigénios fúngicos, maioritariamente de tipo filamentoso.
Sublinho que isto não representa infeção, não sendo comum obtermos isolamento
de fungos mesmo em lavado broncoalveolar colhido broncoscopicamente em
virtualmente todos eles.
A possibilidade de dispormos de
estudo aerobiológico/colheita local adquire uma importância fundamental para o
estabelecimento do nexo de causalidade expositivo. Este é um elemento
frequentemente decisivo para o escrutínio e estabelecimento do diagnóstico, bem
como para alavancar esforços de evicção antigénica (descontaminação/limpeza/medidas
de redução do nível de humidade indoor) que terão impacto prognóstico para
todos estes doentes. Aproveito para relembrar que a maioria destes doentes se
apresenta já com formas fibróticas de Pneumonite de Hipersensibilidade,
mostrando uma expectativa de sobrevivência mediana de 5-8 anos.
Secundariamente ao interesse
clínico que acabo de explicitar, estes dados permitirão também conhecer a nossa
epidemiologia local em termos de contaminação habitacional, com um transfer
muito interessante em termos de saúde pública.
Este tipo de colheita será
efetuado unicamente para casos de suspeita de Pneumonite de Hipersensibilidade
a Fungos, envolvendo sempre que possível uma ida ao domicílio de um elemento da
equipa médica. Envolverão o recurso a placas com meio de Sabouraud que
gentilmente nos têm dispensado. Sempre que possível, as placas serão deixadas
abertas durante um período de 12h nas divisões que se apresentem com maior
contaminação visível com bolores. Ocasionalmente poderá ser feito também um
pequeno esfregaço com zaragatoa.
Em termos epidemiológicos e
clínicos, percebermos se temos Cladosporium sphaerospermum em vez de
Cladosporium sp, ou um Penicillium chrysogenum em vez de Penicillium sp pode
trazer-nos valor acrescentado. Não só em termos de caraterização epidemiológica
(meritória a seu tempo de publicação e difusão científica) como pela capacidade
de cruzarmos essa informação com o título de IgG sérica que podemos pedir para
alguns dos fungos (Aurabasidium pullulans, Mucor racemosus, Stachybotris atra,
Cladosporium cladosporioides, Penicillium notatum/chrysogenum, etc) e
disponíveis em kit comercial da Phadia (por ELISA). A esse propósito, é
possível garantirem-nos - além do género - também a identificação da espécie
precisa dos fungos filamentosos identificados (mesmo que com maior atraso na
resposta)?"
Botrytis é um gênero de fungos filamentosos que pertence à família Sclerotiniaceae. Embora mais conhecido por causar doenças em plantas (fitopatologia), algumas espécies de Botrytis têm relevância em micologia médica devido ao seu potencial patogênico em humanos.
Fungo Botrytis cinerea é essencial para a elaboração de vinhos de grande nomeada em diferentes partes do mundo (vinho botritizado), tanto que ficou conhecida como a podridão do bem, ou podridão nobre.
Os níveis de Botrytis na percentagem de todos os fungos têm uma mediana calculada de cerca de 1,1% nos diferentes ambientes, confirmando que se encontra entre os fungos menos prevalentes. Uma proporção substancial de doentes e trabalhadores é alérgica à Botrytis cinerea e, quando a B. cinerea foi incluída em painéis de teste alargados, foram encontrados mais doentes alérgicos. Assim, a B. cinerea é tão importante como os géneros de bolores mais prevalentes Cladosporium e Alternaria pelo que a sua inclusão em painéis de testes alérgicos pode ser justificada.
Espécies Relevantes em
Micologia Médica
- Botrytis cinerea: A espécie mais comumente
associada a infecções humanas.
- Outras espécies (como Botrytis
elliptica, Botrytis gladiolorum): Raramente relatadas como
patógenos em humanos, mas podem causar infecções oportunistas.
Patogenicidade e Infecções em
Humanos
- Tipos de infecções:
- Oftalmomicose: Infecções oculares,
incluindo queratite, endoftalmite, e orbitite, especialmente em usuários
de lentes de contato.
- Sinusite Fúngica: Infecção dos seios
paranasais, que pode ser invasiva em indivíduos imunocomprometidos.
- Pneumonia e Outras Infecções Respiratórias: Raras,
mas podem ocorrer em pacientes com doenças pulmonares subjacentes ou
imunossupressão.
- Infecções Cutâneas e Subcutâneas: Lesões
localizadas, geralmente após trauma com contaminação do fungo.
- Fatores de risco para infecção:
- Imunocomprometimento (ex.: HIV/AIDS,
quimioterapia, uso de corticosteroides)
- Trauma Ocular ou Cutâneo
- Uso de Lentes de Contato
- Doenças Subjacentes (ex.: asma, doenças
pulmonares obstrutivas)
Características culturais e
microscópicas
- Cultura:
- Meios de cultura: Ágar Sabouraud com
gentamicina e cloranfenicol.
- Condições de Incubação: 25-30°C, por
7-14 dias.
- Morfologia da colónia:
- Tamanho e forma: Colónias de 3-6 cm de
diâmetro, circulares, com bordos regulares.
- Superfície: Cinzenta a esverdeada, com
uma textura macia e felpuda.
- Reverse: Frequentemente com
pigmentação mais escura.
- Características Microscópicas:
- Hifas: Hialinas, septadas,
ramificadas.
- Conídios:
- Forma: Ovoides a cilíndricos.
- Tamanho: Geralmente menores que 15
μm.
- Distribuição: Em conidióforos
ramificados, formando uma estrutura semelhante a uma uva (donde o nome Botrytis, do grego
"βότρυς" ou botrys, significando " cacho de
uvas").
Diagnóstico e tratamento
- Diagnóstico:
- Exame direto: Microscopia de luz após
tratamento com KOH.
- Cultura para fungos: Isolamento e
identificação da espécie.
- Técnicas moleculares: PCR e
sequenciamento para confirmação.
- Tratamento:
- Antifúngicos: derivados azólicos (ex.:
itraconazol, voriconazol), polienos (ex.: anfotericina B) e echinocandinas,
dependendo da localização e gravidade da infecção.
- Tratamento de suporte: Medidas para
aliviar sintomas e prevenir complicações.
Prevenção
- Uso
apropriado de lentes de contato
- Higiene
ocular e cutânea
- Evitar traumas
Conidióforo e blastoconideos |